Coimbra
Os cavalos também se abatem
Nicolau Santos (www.expresso.pt)
10:52 Segunda feira, 17 de dezembro de 2012
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Este ano já foram abatidos em Portugal 2803 cavalos da raça puro sangue lusitano. Não foram abatidos por doença, mas porque os seus criadores não conseguem vendê-los e também começam a não ter meios para os alimentar. Por isso, entre vê-los morrer à fome ou dar-lhes uma morte condigna, os criadores optam pela segunda via.
O
abate de cavalos de sangue lusitano é uma metáfora para o país. Estamos
já a entrar na fase de começar a sacrificar os que nos estão mais
próximos: animais de companhia, de estimação ou de criação - o que vai a
par com o crescente aumento do número de idosos que são deixados nos
hospitais pelas famílias ou de crianças abandonadas à porta de
instituições de caridade ou dos sem-abrigo que começam a proliferar nas
cidades.
Estamos
a evoluir da vida minimamente confortável para a pobreza e da pobreza
para a indigência. Estamos a ver o Estado passar do seu papel de
prestador de apoios sociais para o assistencialismo. E estamos a
assistir à emergência da caridade em detrimento dos direitos dos
cidadãos que supunham viver num Estado de pleno direito.
O
próximo ano será o da morte da economia. E, como escreveu Pacheco
Pereira, do não retorno para milhares de famílias, que estão a ver o seu
rendimento cair drasticamente ou a ser lançadas no desemprego e que
nunca mais conseguirão voltar a ter os padrões de vida que usufruíam até
há muito pouco tempo ou mesmo a conseguir um emprego, por precário que
seja.
Se já chegámos ao ponto de abater cavalos puro sangue lusitano, temos de nos preparar para o tsunami social
que vai devastar o país em 2013. Será o ano da total desesperança, do
desespero, da impotência - mas também da indignação e da revolta.
Construir algo a partir deste quadro vai demorar décadas.