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☼ os vendedores da sopa da caridade

enviado por Cabral Ramos 
Coimbra                                                                        foto de António Manuel Lopes Dias
O Presidente da União das Misericórdias, Dr. Manuel de Lemos, essa luminária da caridade institucionalizada, vem solícitamente apelar à calma no “calor da luta política”. Isto porque, no seu entender, todos os que vão sendo e os que vierem a ser lançados para uma pobreza engendrada pela política de “austeridade” imposta pela Troika e aproveitada pelo Governo com objectivos precisos de “refundação do Estado Social”, tal como inscrito na C.R. escusam de se preocupar: terão sempre uma SOPA DOS POBRES, a ser solicitamente servida pelas Misericórdias e outras IPSS espalhadas por todo o País. E acrescenta mais: só tem fome quem quer... Clama mesmo: “é preciso dizer às pessoas: vão buscar os alimentos! Vão buscar a comida!” De facto, não sejamos pobre e preguiçosos, basta-nos ser pobres: basta estender a mão para uma malga de sopa sempre disponibilizada para o efeito por tão caritativas e benfeitoras almas! Pergunto: e de onde vem o dinheiro para tanta disponibilidade? Dos seus (dele, Presidente da União), profundos bolsos, tão grandes como a sua alma? Do céu, onde esse “Senhor das Sopas” tem certamente um lugar garantido? Não, meus caros...esse dinheiro vem direitinho do Estado. Isso, deste mesmo Governo, que vai cortando cerce nos direitos sociais dos trabalhadores, dos reformados, para com zelo e benção (da Troika?) transferir os milhões necessários a tão úteis Instituições, fazendo delas não a complementaridade na protecção, mas o verdadeiro Estado da caridade, pago com os impostos e os cortes que o Governo lhes faz nas prestações sociais, nas reformas. Um pobre, todos os pobres, perdem um pouco da sua cidadania cada vez que estendem a mão para o prato de sopa... Por isso é que (também) existem os programas para erradicação da pobreza. (A propósito: não foi este mesmo Sr. Presidente da U. M., noutros tempos, o “Comissário da Luta contra a Pobreza”? Ironias do destino...) Mas em Portugal, não. É que os pobres perdem a cidadania, os sonhos e a voz. Os pobres têm “donos”...que lhes dão a sopa para eles se calarem e, se forem velhos, morrerem devagarinho, porque as reformas deles custam muito ao Estado, e eles “não descontaram para terem pensões tão altas” (Primeiro Ministro sabe!!). Ah, Georges Bernanos tinha uma certa razão ao dizer: "Os verdadeiros inimigos da sociedade não são os que ela explora ou tiraniza, são os que ela humilha” Porque a pobreza, Sr. Comissário (ou Presidente) Manuel Lemos, existe e agora alarga-se a outros estratos sociais, a crianças, homens e mulheres que trabalhavam e a velhos que viviam das sua pensões, pelo que a sopa que o senhor. pressurosamente servirá (mera figura de estilo...) representa para cada vez mais pessoas aquela HUMILHAÇÃO, mesmo que embrulhada no papel diáfano da caridade.