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☼ a crise moral

 enviado por Maria Brito 
Barreiro 
 MANUEL MARIA CARRILHO A FARSA, DEPOIS DA TRAGÉDIA 

- A pergunta que agora surge nos lábios de toda a gente é pela confiança que resta, depois de tanta trapaça. Não era imprevisível, mas era bem dispensável a nova fase da crise em que assim entrámos, pisando as areias movediças de uma verdadeira crise moral. Crise que vem agudizar todas as suspeitas que já se alimentavam sobre o poder, reforçando a corrosiva desconfiança com que os cidadãos olham para as suas elites dirigentes - sobretudo políticas, mas também económicas e financeiras - e para o continuado, persistente fracasso da sua ação. Quando a história se repete, dizia Marx, depois da tragédia vem a comédia. Assim é, mais uma vez. Mas ao transformar a tragédia da licenciatura de José Sócrates numa comédia, Miguel Relvas faz mais: ele banaliza o que ainda assim se supunha excecional, reforçando o dano brutal que tudo isto tem causado ao País. Arrastando assim a classe política para um patamar inédito de descredibilização, como se toda ela se dividisse entre suspeitos e culpados, entre cúmplices e reféns. Esta farsa evidencia diversos aspetos que mereciam a maior atenção, nomeadamente a bagunça que - com uma ou duas exceções, não mais - tomou conta do ensino universitário privado português, quantas vezes com a cumplicidade bem paga de nomes sonantes do ensino público. Mas o sinal mais aterrador, porque esse é um sinal do futuro que nos espera, é o silêncio quase unânime da classe política, como se nela ninguém fosse já livre de soletrar o que é absolutamente óbvio. Os perigos que ameaçam a política nunca foram, por isso, tão grandes. Como escreveu no seu magnífico Dicionário Imperfeito Agustina Bessa-Luís, "politizar sem primeiro instruir provoca a intervenção do mais grosseiro rosto dos desejos humanos. Aparece a cupidez e a insolência e por aí adiante". Se não queremos ir por aí adiante, só há um caminho: o de impor rapidamente à política novos critérios de qualificação e de ética. Claro que o Partido Socialista, que em tudo devia ser uma alternativa de valores a esta deriva rente ao abismo do descrédito, paga hoje a complacência com que cobriu as falcatruas e os desmandos socráticos, sem autoridade moral para dizer o que - em nome da mais elementar decência! - todos os portugueses lhe pedem que fosse dito